A natureza tem destas coisas
Dia 3 deste mês, na ilha da Fuzeta, o mar irrompeu pela ilha adentro e abriu uma nova barra. Nova barra, para quem não tenha conhecido a ilha há 50 anos. Era neste local que nessa altura havia uma. Actualmente os homens do mar para irem à pesca têm de se deslocar a Olhão, pois a espécie de barra da Fuzeta fica a 3 milhas e está quase fechada, permitindo apenas a entrada e saída de embarcações de pequeno calado, com meia-maré e se não houver vendaval.
Dia 3 deste mês, na ilha da Fuzeta, o mar irrompeu pela ilha adentro e abriu uma nova barra. Nova barra, para quem não tenha conhecido a ilha há 50 anos. Era neste local que nessa altura havia uma. Actualmente os homens do mar para irem à pesca têm de se deslocar a Olhão, pois a espécie de barra da Fuzeta fica a 3 milhas e está quase fechada, permitindo apenas a entrada e saída de embarcações de pequeno calado, com meia-maré e se não houver vendaval.
No entanto, há cerca de 30 anos, numa das suas muitas visitas, Mário Soares, então primeiro-ministro, prometeu a abertura daquela barra. A natureza tem destas coisas e encarregou-se de cumprir a promessa de Mário Soares, porque ele... depois de caçado o voto nunca mais se lembrou, desta e outras promessas feitas por esse país fora. Mas por cá ficou uma semente deste espalhador de promessas. Dá pelo nome de Francisco Leal e é presidente da Câmara Municipal de Olhão. E numa das suas muitas iniciativas descabeladas, autorizou na zona ribeirinha da Fuzeta construções em terrenos do Domínio Publico Marítimo, a menos de 50 metros da preia-mar. Com esta nova barra, aquelas construções estarão em risco e Francisco Leal, mais os seus patos-bravos, dizem que agora é preciso fechá-la, para proteger o que ilegalmente foi construído.
Os próprios técnicos da ARH afirmam que uma vez que já ali havia uma barra há 50 anos, é esta que deve ser completamente aberta com afundamento do seu leito, pois antes nunca ameaçou a população da Fuzeta.
Se o Programa Polis Ria Formosa tem como objectivo renaturalizar a Ria, esta foi uma ajuda que a natureza ofereceu sem encargos para esse fim. Esses encargos devem agora ser aplicados na limpeza dos entulhos das casas que entretanto o mar destruiu e que vogam por ali. Esperemos pela opinião da Ministra do Ambiente, Lurdes Pássaro.
É que os interesses imobiliários dos tais patos-bravos ali instalados, são muito fortes e a vista de mar, o mais próximo possível é outra benesse da natureza que não se paga, mas se vende. Foi assim no Marina Village, vai ser assim no novo hotel em Marim, com nada mais que 900 camas que será construído em Zona de Protecção Especial.
A natureza tem destas coisas. Se por um lado dá, por outro reclama aquilo que é seu e se não a respeitarmos, não tem condescendências.
Enquanto a lógica for a do lucro desenfreado e imediato, a betonizaçao da Ria e de outras zonas de interesse ambiental continuar nesta lógica, mais acidentes e "catástrofes naturais" continuarão a acontecer. E acontecem pelo mundo fora, como as recentes no Haiti, na Madeira ou no Chile. Aí, houve vidas humanas a lamentar, aos familiares das quais queremos, deste nosso pequeno canto, enviar um abraço de solidariedade do tamanho do mundo.
Aos homens compete-lhes estudar, conhecer e dominar os segredos da natureza. Só depois disso, devemos pô-la ao nosso serviço, respeitando aquelas premissas. Mas isso só poderá acontecer numa sociedade que não tenha por fim único a obtenção de lucro a qualquer preço, numa sociedade onde a realização pessoal e colectiva tenha em consideração a plena satisfação das necessidades do homem em conjugação com a natureza.
Esse dia há-de chegar, como a força da natureza. Compete-nos a nós apressá-lo começando por limpar os escombros desta sociedade, como os F. Leais e outros que tais.
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